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domingo, 6 de janeiro de 2013

O GATINHO ABANDONADO



O GATINHO ABANDONADO
Ysolda Cabral



Na ponte o gatinho dentro da “casa”  de papelão se protegia da chuva.

Enterneceu-me a fragilidade do abrigo a ponto de me fazer perder a fome.

Como posso ser assim? Será que não mudo nunca?

- Preciso mudar é  de caminho...

Esse gatinho é da família que, também, mora sobre a ponte, ou pontilhão, o qual não passa sobre rio; passa sobre um canal fétido, feio, sujo, imundo e que fica localizado, a céu aberto, por toda a extensão da mais importante avenida do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães.

- Por onde andava a família do gatinho a encolher-se da chuva, sobre a ponte?

Talvez no posto de gasolina da esquina... Ou o governo, finalmente, a encaminhou para algum conjunto habitacional?

- Impossível! Ela não abandonaria o gatinho, em hipótese alguma.

Com a chuva caindo sem contemplação, continuei no caminho que preciso mudar, pensando por onde andaria a família do gatinho esquecido sobre a ponte.

- Será que se perdeu na noite de Natal? 

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Recanto das Letras  em 02/01/2013
Código do texto: T4064144
Classificação de conteúdo: seguro

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Comentário deixado para o texto acima por Odir Milanez (Oklima), o qual não poderia deixar de vir para cá,  uma vez que ele conta como, aos 11 anos de idade, quis esquentar um gatinho molhado e com frio que lhe chegou assim do nada. Por pura sorte! Risos)  

 O GATINHO MOLHADO
 Odir Milanez 

Menino travesso, em uma certa noite junina e bastante chuvosa,um gatinho igual a esse teu, ó moça bonita de covinhas no rosto, invadiu o terraço onde eu matutava estrepolias, miando alto e a me olhar com olhar de gato à procura de uma terrina de leite morno. Ronronou ao meu "pshiu-pishiu" e, sem maiores receios, postou-se ao alcance da minha mão. Os meus pais e irmãs também ronronavam, encafuados em razão do frio e do barulho das águas cascateando nas biqueiras, enquanto eu, apenas eu, no terraço,vivia a vida que via lá fora, com um gato molhado no colo. De repente, a luminosa idéia! Dei de garra de um "mijão" restado no bolso da calça, retirei o cadarço do tênis, e amarrei-o, firmemente, no rabo do bichaninho. Rasguei o rabicho do mijão e cuidando de não apagar o único fósforo que me restara toquei fogo no bicho. Ao ver o rabo soltando faíscas para todo lado, o gato pulou do meu colo, pulou o muro (parecia o João do Pulo!)saracoteou pela rua e adentrou numa casa quarteirão acima. Ainda me mijava de rir quando gritos vários invadiram a rua: "Fogo! Fogo! Incêndio!" Corri para o portão. Da casa onde o gato entrara saíam um fumaceiro da cor da noite e berros de alerta. Temendo o pior, voei de volta ao meu quarto, cobri-me com uma manta dos pés à cabeça e me fingi ferrado em sono profundo, que acabou sendo de vera. Dia seguinte, logo cedo, saí zanzando perguntas, como quem nada quer mas conseguindo saber de tudo. O gato havia entrado na casa que o hospedava e se enfiado debaixo da cama de sua hospedeira. A cama pegou fogo. A dona pulou de cima da dita ao primeiro fungado fumacento, orquestrando o coro gritante que somente silenciou com a chegada dos bombeiros. O fato, ainda hoje, continua sendo um mistério:Quem? Como? Onde? Por quê? Nem eu sei... Sabes tu, Ysolda Cabral? Beijando-te abraços juninos, Odir