ENCONTROS E DESENCONTROS
Ysolda Cabral
Ontem que foi domingo, Deus mandou que chovesse para aplacar
a fome e a sede dos sertanejos. Infelizmente, São Pedro, abriu as comportas na
área que não precisava. Fiquei triste e pela primeira vez não comemorei a chuva
e até o cheiro de terra molhada, que vinha da praia, trazido por um Vento
debochado e com cara de poucos amigos; rejeitei.
De repente fiquei com dor de cabeça, cabisbaixa e nem notei
como o dia estava igual a mim: feio, frio, triste, choroso... De cara amarrada.
Não senti vontade de ficar num velho e fofo sofá, com um bom livro para ler,
nem que fosse Hermógenes ou Hesse, ouvindo blues, tampouco para assistir
‘’Austrália’’, ou ‘’E o Vento Levou’’ ou ‘’ Yentl’’, que já assisti mais de dez
vezes...
A apatia era tanta, que resolvi resmungar contra são Pedro o
fato de ser tão distraído. Em resposta ele mandou mais chuva. Entretanto, chuva
chata que não fertiliza e nem alaga. Só desnorteia, entristece e faz aumentar a
fome e a sede dos que vivem em terras secas e feridas pelo Sol.
Minha filha percebendo minha apatia me convenceu ir ao
cinema, no Shopping, assistir o filme sobre a vida de Luiz Gonzaga e o seu
filho Gonzaguinha.
- Como o cinema brasileiro está melhorado!
Nossa, o filme está perfeito! Sai dali, repleta de orgulho,
porém mais triste pela constatação que a vida é mesmo a arte dos encontros, dos
desencontros e dos desentendimentos para
todos.
De repente me vi olhando as pessoas ao meu redor – nunca
faço isso, pois sou naturalmente desligada, ou pouco observadora, no quesito
vida alheia. Triste constatei a pressa, a falta de cortesia e de educação.
Notei também a soberba em muitos, a vaidade, o exibicionismo... Entretanto, me
chamou a atenção, sobremaneira, ver casais de namorados, nitidamente não
enamorados, juntos não sei a razão, os quais destoavam na maneira de se
portarem e de se vestirem. As moças bem arrumadas e os rapazes desleixados,
largados em bermudas, camisetas regatas e de sandálias havaianas. Nenhum
cuidado com a aparência para encontrar as namoradas. De pronto me veio à mente
uma cena do filme que acabara de assistir em que, Gonzagão, aluga uma roupa
especialmente para encontrar aquela que viria a ser mãe do Gonzaguinha.
Cavalheirismo e romantismo? Não vi em lugar algum.
Cheguei à triste conclusão de que, nós pais, deixamos alguma
coisa escapar.
- Mas, exatamente o quê?
O jeito foi parar de ''filosofar'', até por que recentemente
me disseram que não tem coisa pior que um poeta filósofo e passei a prestar a
atenção apenas em minha linda filha, a qual tinha chorado muito no filme que
havíamos acabado de assistir e, eu, precisava fazê-la sorrir.
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RL em 03/12/2012
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