ENTRE DOIS AMORES
Ysolda Cabral
Deixando apenas um beijo pra beijar o dia inteiro, fui ao
seu encontro. O dia estava lindo como nunca estivera. O Sol que chegara de
mansinho, já iluminava tudo.
- Parecia até um complô ao seu favor!
Contudo, ao chegar ao local do nosso encontro, dei-me conta
que o Céu descia sobre você como se estivesse a lhe esconder de mim. Parei.
Olhei para um lado e para o outro. Respirei fundo e sem conseguir mais me
segurar, corri pra você. Ou, pelo menos para onde eu achava que você estivesse.
O Sol, sem me dar chance alguma, me acertou um de seus
raios.
- Quase me derrubou. Teria o Céu mandado?
- Haja conjecturas!
Sem entender o que acontecia, não desisti. Mesmo ofuscada,
quase tateando, recorri a um dos meus cinco sentidos, o mais poderoso de todos
que possuo, e, pelo seu cheiro, cheguei até você.
- Nossa, que alegria e que emoção!
E, com a segurança de quem sabe que é amada, quis mergulhar
em você, sem preliminares. Senti de imediato, você frio, muito frio. Um frio
gelado, em quase pleno meio dia, de um dia lindo e encantado.
- O coração disparou e todo o meu corpo se arrepiou, mas não
desisti!
E, com a intuição dos que traem e pecam, percebi: você já
sabia que meu coração estava numa divisão das mais bonitas e infernais...
Então, com a compreensão de quem ama de maneira plena,
achando até que meu castigo estava de bom tamanho, você me sorriu ondas e me
acolheu com gosto de lágrimas, me dando boas vindas.
Entreguei-me feliz,
de corpo, alma e coração. Porém, compreendendo que você sabia que eu, ao
emergir, me entregaria à poesia que me aguardava.
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Publicado no Recanto das Letras em 30/09/2012
Código do texto: T3908881
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