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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

AEROPORTO



A E R O P O R T O
Ysolda Cabral


À minha frente um pai ensina seus dois filhos jogar baralho, enquanto espera a hora do embarque.

- Convém ensinar?

O aeroporto bonito é tomado por gente, cores e moscas... Moscas que voam, enojam, perturbam na disputa por migalhas de comida.

- Sinto meu estômago revirar...

Gilberto Freire, escritor e sociólogo pernambucano, é estátua à minha frente - homenagem da Infraero, diz a placa.

- Não vejo moscas nele!...

Indiferente a tudo o povo passa pra lá e pra cá. 

No teto de vidro, o Céu nublado lembra perigo.

- Ah, pássaros de aço! Medo, estresse, atrasos...

Penso em minha filha que está para chegar e rezo. 

Observando alguns semblantes, catalogo os alegres. Os tristes me deprimem e me convidam a ajudar. Como não posso, abro a bolsa e pego o porta-batom. Olho-me no espelho e o que vejo não consigo precisar. Guardo tudo depressa, me perguntando a razão da hora não passar...

Próximo, alguém conversa uma conversa que não diz nada. Coisa de quem parte deixando alívio ou saudade...

- Sei lá!

O serviço de som avisa coisas de rotina, ou importantes que ninguém ouve.

Não vejo tristeza e nem alegria nas partidas e nem nas chegadas...

- Estou aflita!

- Será que somente eu espera uma fiha?





Recife-PE
Em Estado de Espera
30.01.2014

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Recanto das Letras 
Em 31/01/2014
Código do texto: T4672444