O GATINHO ABANDONADO
Ysolda Cabral
Na ponte o gatinho dentro da “casa” de papelão se protegia da chuva.
Enterneceu-me a fragilidade do abrigo a ponto de me fazer
perder a fome.
Como posso ser assim? Será que não mudo nunca?
- Preciso mudar é de
caminho...
Esse gatinho é da família que, também, mora sobre a ponte,
ou pontilhão, o qual não passa sobre rio; passa sobre um canal fétido, feio,
sujo, imundo e que fica localizado, a céu aberto, por toda a extensão da mais
importante avenida do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães.
- Por onde andava a família do gatinho a encolher-se da
chuva, sobre a ponte?
Talvez no posto de gasolina da esquina... Ou o governo,
finalmente, a encaminhou para algum conjunto habitacional?
- Impossível! Ela não abandonaria o gatinho, em hipótese
alguma.
Com a chuva caindo sem contemplação, continuei no caminho
que preciso mudar, pensando por onde andaria a família do gatinho esquecido
sobre a ponte.
- Será que se perdeu na noite de Natal?
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Recanto das Letras em
02/01/2013
Código do texto: T4064144
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Comentário deixado para o texto acima por Odir Milanez
(Oklima), o qual não poderia deixar de vir para cá, uma vez que ele conta como, aos 11 anos de
idade, quis esquentar um gatinho molhado e com frio que lhe chegou assim do
nada. Por pura sorte! Risos)
Menino travesso, em uma certa noite junina e bastante
chuvosa,um gatinho igual a esse teu, ó moça bonita de covinhas no rosto,
invadiu o terraço onde eu matutava estrepolias, miando alto e a me olhar com
olhar de gato à procura de uma terrina de leite morno. Ronronou ao meu
"pshiu-pishiu" e, sem maiores receios, postou-se ao alcance da minha
mão. Os meus pais e irmãs também ronronavam, encafuados em razão do frio e do
barulho das águas cascateando nas biqueiras, enquanto eu, apenas eu, no terraço,vivia
a vida que via lá fora, com um gato molhado no colo. De repente, a luminosa
idéia! Dei de garra de um "mijão" restado no bolso da calça, retirei
o cadarço do tênis, e amarrei-o, firmemente, no rabo do bichaninho. Rasguei o
rabicho do mijão e cuidando de não apagar o único fósforo que me restara toquei
fogo no bicho. Ao ver o rabo soltando faíscas para todo lado, o gato pulou do
meu colo, pulou o muro (parecia o João do Pulo!)saracoteou pela rua e adentrou
numa casa quarteirão acima. Ainda me mijava de rir quando gritos vários
invadiram a rua: "Fogo! Fogo! Incêndio!" Corri para o portão. Da casa
onde o gato entrara saíam um fumaceiro da cor da noite e berros de alerta.
Temendo o pior, voei de volta ao meu quarto, cobri-me com uma manta dos pés à cabeça
e me fingi ferrado em sono profundo, que acabou sendo de vera. Dia seguinte,
logo cedo, saí zanzando perguntas, como quem nada quer mas conseguindo saber de
tudo. O gato havia entrado na casa que o hospedava e se enfiado debaixo da cama
de sua hospedeira. A cama pegou fogo. A dona pulou de cima da dita ao primeiro
fungado fumacento, orquestrando o coro gritante que somente silenciou com a
chegada dos bombeiros. O fato, ainda hoje, continua sendo um mistério:Quem?
Como? Onde? Por quê? Nem eu sei... Sabes tu, Ysolda Cabral? Beijando-te abraços
juninos, Odir