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terça-feira, 10 de setembro de 2013

UM CANTO TRISTE ( OU, O ÚLTIMO CANTO)


UM CANTO TRISTE
Ysolda Cabral



Leitos de rios nada claros...
Secos, escuros, silenciosos, sombrios,
na sinuosidade do nada absoluto,
gera luto agressivo, destemperado
a gargalhar impropérios inaudíveis.

A lua, sem reflexo, chora gotas de orvalho
sobre o tempo do medo, que chega cedo,
aterrorizando, com ilustrações burlescas,
chulas, agressivas e despropositadas,
destruindo toda pureza do amor e da poesia.

Rios de asneiras, sem eiras, nem beiras,
sem ribeiras que  trazem ira, raiva,
fazem sumir Vitórias Régias, não deixam nada!
Nenhuma brecha, fresta, tudo se veda
e tudo definitivamente acaba...

Na tentativa vã de mapear novos caminhos,
os leitos dos rios vão deixando rastro de tristeza,
de desolação, de destruição e indignação
nas Sereias, as suas margens, que,  agonizam
sem canto, sem beleza e sem mais ilusão.

O único pássaro a espreitar é o Urutau.
Ele, disfarçado de simples e feio pau,
a tudo assiste com ares de deboche.
É a morte que as entranhas lhe retorce,
Pra ter concretizada a sua maldição.


Recife-PE
10.09.2013
Apenas Poesia

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Recanto das Letras
Eem 10/09/2013

Código do texto: T4475173