PASSEIO AO ENTARDECER
Ysolda Cabral
A gente está tão
acostumado a se locomover de carro pra lá e pra cá que esquece o quanto é bom
andar a pé pelas ruas da cidade sem pressa, num final de uma tarde qualquer.
Andar com pés de
passeio, vestidos de sapatos confortáveis e mãos livres de bolsas e pacotes.
Cabelos soltos ao vento... Pulmões fortes, limpos e em pleno funcionamento a
filtrar os diversificados aromas, ocasião em que, nosso cérebro, capta aqueles
que mais apreciamos e nos remete, através do olfato, cheiros que nos levam a
doces e belas lembranças.
O perfume de um
roseiral completo... O perfume do primeiro namorado, por exemplo.
Ah, os perfumes!
Gosto de senti-los, de identificá-los...
Se observarmos bem,
há na brisa, a qual antecede o vento do entardecer, um frescor repleto de
cheiro bom. Entretanto, é preciso senti-lo antes que o vento chegue assanhando
os seus cabelos, ansioso para lhe contar os segredos dos lugares por onde passou.
Agradecendo seus
carinhos, lhe digo pra não perder tempo comigo, pois não consigo lhe entender e
nem interpretar. Neste momento sorrio ao lembrar do poeta, o qual escuta a voz
do vento e versa lindos versos de amor. Então, sigo em frente escutando o
vento, naquilo que penso ser reclamação. Todavia, adorando o seu carinho nos
meus cabelos.
Pois é! Tenho tido
essa oportunidade de andar pelas ruas da cidade no final da tarde ao sair do
trabalho, no momento em que vou ao encontro de minha filha, para juntas, irmos
pra casa. É que estou impossibilitada de dirigir, por aproximadamente trinta
dias, em função de ter sido submetida a uma cirurgia no último dia 18.
Estou adorando ter
uma linda motorista e a pequena caminhada ao entardecer de cada dia de
trabalho.
Pena que o percurso
seja tão pequeno e a motorista seja tão apressada, aliás, apressada como todos
os que passam por mim.
Recanto das Letras em 11/04/2013
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T4235541
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